Doidivana

blog da escritora Ivana Arruda Leite

OUT FLIP

4 comentários

(matéria publicada na Revista SãoPaulo, da Folha de São Paulo, no último domingo)

Escritores que não vão ao evento em Paraty falam sobre o preconceito com best-sellers e a espera por um convite.

Divulgação
LEANDRO NARLOCH

1. Leandro Narloch: escreveu o best-seller “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” (Leya), há quase 80 semanas entre os mais vendidos

Te chateia não ter sido convidado para participar do evento?
De forma alguma. Cada feira escolhe os escritores que considera mais apropriados ao seu público. A Flip tem um pé na academia, convida intelectuais com uma contribuição original ao pensamento brasileiro, aos quadrinhos ou à literatura. Não é o meu caso. Meus livros são irrelevantes para o mundo acadêmico. Se eu participasse da feira do ano passado, faltaria à minha própria palestra para ver o Robert Darnton ou o FHC reavaliando sua análise dos anos 1970 sobre a obra do Gilberto Freyre.

Acha que os autores best-sellers são deixados de lado pela festa?
Talvez sim, mas não tenho certeza. Eu mesmo tinha preconceito com best-sellers antes de virar um. A postura de curadores e leitores deve ser de neutralidade. Há muita bobagem -e também muitos livros bons- vendendo bem.

Eduardo Anizelli/Folhapress
LAURENTINO GOMES

2. Laurentino Gomes: escreveu os best-sellers “1808” (Planeta) e “1822” (Nova Fronteira), ambos nas listas de mais vendidos

Já foi convidado para a Flip?
Não. Mas entendo que a Flip é um evento internacional, que traz autores de renome. Sou um escritor recente. Espero que uma hora dessas me convidem.

O evento atinge seus leitores?
Sim. Meus livros atingem todas as classes. Por isso, faço questão de participar de eventos. O leitor é muito fugaz. Se você não vai atrás dele, não vende livro. Livro é quase como campanha eleitoral.

Tem alguma sugestão para a festa?
Seria interessante refletir os fenômenos do mercado editorial brasileiro. Me preocupa a literatura como sinônimo de elite. Como se livros populares fossem menores, não merecessem atenção. A história do Brasil virou assunto importante no mercado editorial. O tema é candidato natural à agenda da Flip.

Christian von Ameln/Folhapress
IVANA ARRUDA LEITE

3. Ivana Arruda Leite: autora de “Hotel Novo Mundo” (Editora 34) e “Alameda Santos” (Iluminuras)

Te aborrece não ser convidada?
Já aborreceu mais. Hoje, sou brocha em relação à Flip. Se for convidada e tiver saúde (já tenho 60 anos!), irei.

Existe um “tipo” de escritor da Flip?
Com certeza. O escritor(a) da Flip é rico(a), bonito(a), gostoso(a), se veste bem, mora bem, bebe bem, fala bem…

Esses eventos atingem seus leitores?
Atingem cada vez mais os leitores da Casa do Saber. Não é meu público.

Karime Xavier/Folhapress
NELSON DE OLIVEIRA

4. Nelson de Oliveira: autor de “Poeira: Demônios e Maldições” e organizador de “Geração Zero Zero” (Língua Geral)

Te incomoda não ter sido chamado?
De maneira nenhuma. Tenho certeza de que apenas não surgiu a melhor oportunidade. Quando me convidarem, aceitarei com prazer. Sem melindre.

Na sua opinião, a festa privilegia um “tipo” de autor na seleção?
Neste ano, a organização privilegiou os autores estrangeiros. Concordo. Os leitores sempre poderão encontrar os brasileiros nas noites de autógrafos.

Acha que participar influenciaria a venda de seus livros?
Creio que sim. Pelo menos durante o evento. Percebo que, meses antes da Flip, a imprensa cultural dá bastante destaque às obras dos convidados.

Divulgação
MARCELO MIRISOLA

5. Marcelo Mirisola: autor de “Memórias da Sauna Finlandesa” (34) e “Animais em Extinção” (Record)

Já foi convidado para a Flip?
Fui convidado, em 2006, para fazer uma matéria social pro jornal “Zero Hora”. Se eu me comportasse, teria meu lugar reservado como autor convidado. Fui o primeiro a zoar o barraco da Flip e não me chamaram pra mais nada.

Acha que o evento convoca um “tipo” específico de escritor?
No caso dos autores brasileiros, os escolhidos sempre são inofensivos, figurantes, aposentados. Os gringos não fazem a mínima ideia do que está acontecendo lá. Para eles, a Flip é um safári.

Qual é o objetivo da festa?
Além de movimentar as pousadas e restaurantes locais, é provar para o mundo que o shopping Higienópolis é algo que transcende estações de metrô, que livros e bolsas de grife são artigos diferenciados para gente diferenciada.

Mastrangelo Reino/Folhapress
Gabriel Chalita
Gabriel Chalita

6. Gabriel Chalita: autor, com o padre Fábio de Melo, do best-seller “Cartas entre Amigos”, deputado federal (PMDB-SP) e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo

Já foi convidado para o evento?
Fui convidado, mas não pude comparecer. Acho que na primeira ou na segunda edição. Não lembro. Neste ano, o convite foi apenas de editoras.

A Flip alcança seus leitores?
Acho que a Flip é muito interessante. Certamente atinge meus leitores como os outros eventos também atingem. Quanto mais eventos, melhor. Precisamos fazer do Brasil um país de leitores. A leitura amplia o repertório e ajuda o desenvolvimento da aprendizagem. E a aprendizagem é o passaporte para a liberdade, para a autonomia.

Autor: Doidivana

escritora de forno e fogão

4 thoughts on “OUT FLIP

  1. …Ah! Adorei sua resposta à Folha.
    Eu fui à FLIP pela 1ª vez, rapidinho, só no sábado, mas deu pra sentir que há duas, três Flips…E eu gostei mais dos artistas que ficam nas ruas…
    Toda programação tinha de ser de graça e com mais escritores como você, por exemplo, pois o evento já gera muito dinheiro…
    Ainda tem muito que melhorar em termos de literatura nacional (senti sua falta e outras escritoras), mas o espaço é bacana e vale a viagem…principalmente com os amigos.
    Beijos

  2. Sabe que eu não faço ideia de quando nem onde tirei essa foto? Eu também adorei.

  3. Ivana, o Edinho e o Parada que me desculpem mas voce está deslumbrante na foto! rararara
    E eu reforço o Mic, só volto para Paraty quando voce lá estiver!
    bjs

  4. já disse e repito, só volto à flip (fui em 2006) qd vc for convidada. =)

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