Sofia dançava um tango argentino enquanto o professor, na cama, sorria maravilhado. Emocionada, contou-lhe a lição que aprendera quando almoçou com a morte e soube que nem só de morte é feita a morte. A vida brota no meio da morte enquanto se come bife com legumes. A vida nasce de dentro da couve-flor, dizia ela com a voz entrecortada pelos sussurros de Gardel na Cumparsita. A morte chegou a confessar-lhe que errou três vezes: na primeira fez-se arroubo e enforcou a vida em praça pública; na segunda salgou a vida até que dela não brotasse mais nada; na terceira comprou uma Olivetti portátil e começou a escrever versinhos. Foi assim que a morte se salvou. Esta foi a lição matutina. Na lição vespertina, Sofia lhe contou que aprendeu que a vida é míope e também errou três vezes: na primeira pisou na cabeça da serpente pensando tratar-se de minhoca; na segunda negou um trocado quando ela veio lhe oferecer chiclé na esquina; na terceira descobriu que nem só de vida é feita a vida. Foi a sua salvação. Com as lições na ponta da língua, Sofia se enfiou embaixo do cobertor lilás e enrolou-se nas pernas do professor que lhe aplaudia extasiado.
(conto publicado no meu livro Histórias da mulher do fim do século, a ser relançado em 2010, juntamente com Falo de Mulher e Ao homem que não me quis. Aguardem! )
24/05/2010 às 16:24
Finalmente vou poder ter o 3 livros juntos na minha prateleira, eba!
23/05/2010 às 21:24
Muita gente diz isso. Mas quando escrevo eu não penso em cinema não. Se alguém se dispuser a transformar um texto meu pra filme, eu vou adorar. Abração
23/05/2010 às 21:18
Ivana, é interessante notar que os teus textos tem um recorte bem cinematográfico, pensa em cinema quando escreve, ou pensa em escrever para cinema? O blog é bem massa! Abraço.
22/05/2010 às 23:06
Irei amanhã em Ribeirão Preto para presentear o meu Davi e me presentearei com um livro seu. (sorrio).
Sujere algum em especial? (sorrio novamente).
Abraço do Jefhcadoso
22/05/2010 às 23:04
Bem, vou comentar, mas não de forma maquinal. Também gosto de ser comentado, mas gosto muito mais quando vem um comentário ‘inventado’. Não tenho nada a dizer sobre a Sofia, mas sim da Ivana: Tenho vindo neste blog desde há duas semanas; esta é a terceira semana. Li os vários textos da Revista da Folha de 2004 que publicou aqui, e, já comentava com a Andréia o quanto é agradável vir neste espaço. Mas agora leio este texto e penso: Caramba! Olhe, tudo pode ser por favorecimento nessa vida, menos o sucesso literário não comercial. Esse exige talento. E esse seu texto veio com uma força descomunal. Sendo assim, humildemente comento a mão da escritora, pois ao texto ainda cheguei.
Conheci Marcelino Freire quando li Homo Herectus; e acabo de conhecer a Ivana Arruda Leite ao ler O Exercício.
Abraço do Jefhcardoso