Passa da meia-noite eu já estava deitada mas levantei e liguei o computador pra registrar minhas impressões sobre Os Malaquias, romance da minha querida amiga Andréa del Fuego que acabei de ler nesse instante. As ideias que me vêm são tão gasosas e fugidias (já tô no clima) que se dormisse acordaria sem elas.
Livro de amigo é um problemão. A gente morre de medo de não gostar. Se for o caso, o que fazer? Calar-se e tocar a vida pra frente. Ele entende e te perdoa. Fica pra próxima. A vida é assim mesmo. Mas quando o amigo é muito amigo ele espera uma resposta. Nem que seja pra dizer: não gostei, parei no meio ou coisa do gênero. Bebe-se uma cerveja e toca-se pra frente do mesmo jeito. A Andrea é do segundo tipo. Daí o medo. Eu teria que falar alguma coisa. Ora, minha querida, nada mais fácil que falar desse maravilhoso romance que você entrega aos seus privilegiados leitores.
A prosa da Andréa é muito diferente da minha. De outro feitio. E ela sabe que tem coisa que eu gosto, tem coisa que eu não gosto. Mas Os Malaquias é a “prosa da Andréa” no seu esplendor, no seu apogeu, na sua maturidade “roseana”. Andrea é lá das Minas e se bandeou totalmente pros Guimarães Malaquias na forma e no conteúdo.
Eu achei um livro dificílimo de ler.
(um pequeno parênteses: meus amigos agora deram pra esfolar o couro do leitor. Primeiro o Joca, agora a Andrea)
Dificílimo porque é uma prosa rebuscada, poética, cheia de imagens que te obrigam a reconstruir o livro nos vazios que ela vai deixando. Sim, se querem um rótulo, é literatura fantástica. Agora, imagine somar realismo mágico com uma linguagem cheia de volutas e labirintos de entontecer. Não é pra qualquer um. Eu passei dois dias suando e sangrando pelos vales, montanhas e mares que só existem na geografia enlouquecida dessa escritora que se revela como escritora singularíssima no meio da mesmice da literatura contemporânea brasileira, onde, aliás, me incluo.
Andrea é original na forma e no conteúdo. Quem hoje em dia ousa escrever um romance que não se passa num grande centro com personagens urbanóides, psicóticos, violentos e angustiados? O cenário da Andrea é outro. Assim como o tempo. Ela lida com o tempo circular dos mitos e dos contos de fada. Os personagens são de outro tamanho: muito menores (Antonio, o anão é deslumbrante) e/ou muito maiores (Geraldina é do tamanho de uma lagoa e ilumina uma cidade inteira). A voz é outra, o cheiro é outro, as estranhezas e sustos são de outra natureza. E olhe que são muitos.
Longe de mim estragar o impacto do livro mas prepare-se porque no vôo da imaginação da Andréa não tem cinto de segurança que te prenda à cadeira. Você voa com ela mundo acima ou abaixo.
Viva a Andréa del Fuego!
Corra comprar Os Malaquias e divirta-se com uma das experiências literárias mais surpreendentes da sua vida.
Pingback: ainda o livro « Andrea del Fuego
26/07/2010 às 06:22
que lindo texto Ivana, quero ler também e vou tentar encomendar daqui e sou leitora do blog da sua amiga Andrea del Fuego.
bjs
25/07/2010 às 21:57
Que tudo! Tá na lista de leituras!
Beijos
24/07/2010 às 22:10
Ivana, você continua lindamente surpreendente aos meus olhos. Estou lendo o seu texto e tive que parar em um trecho de grande sinceridade seguido por outro de grande modéstia, para comentar, acredita? Bem, o livro está muito bem apresentado. Andréa Del Fuego certamente ficou feliz com seu bom comentário.
Há dias que quero vir aqui, mas me senti constrangido por um fato pessoal. É que me prometi que compraria um livro e só depois viria. Fiquei doente, minha filhinha também. Adiei uma viajem. Fui fazer outras coisas e acabei sem jeito de quebrar minha promessa de mim para mim. Por isso dei chance para a saudade.
Quer saber, um dia você ainda terá o encargo de ler e comentar um livro meu, Ivana. E será na segunda categoria de amizade que me comentará. (sorrio).
Abraço do Jefhcardoso que ainda não desistiu de esperar uma visita sua ao meu humilde http://jefhcardoso.blogspot.com
23/07/2010 às 11:25
IVANA! Nem no delírio mais colorido eu imaginei que um dia leria uma leitura assim. Posso morrer agorinha, com um raio na cabeça. Tô emocionada. Beijos!